quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dinheiro


Estamos inseridos em uma sociedade – real e imaginária (mídia) ao mesmo tempo – onde tudo rodeia o dinheiro. E esta ciranda criada é, para muitos, fundamental à sobrevivência e à evolução humana – ou pelo menos do ego. Essa fantasia demasiado sensível, na realidade, é atribuída imaginariamente com discursos mágicos, algo com vida que, pós-adquirir valores humanos, “seria aplicado para o bem de si e da sociedade, tendo um efeito de acordo com o sentimento de quem o usa” – ou de quem o pedir para usar.

Ao utilizarmos o dinheiro deveríamos nos perguntar: “o que quero comprar é algo necessário ou um desejo?”.  Entretanto, não nos perguntamos. Se não nos perguntamos da nossa real necessidade – ou de uma suposta necessidade imposta sem contestação –, implicaria dizer, então, que a prática discursiva do poder interessado no consumo seria, de fato, eficaz? Ou preferimos fechar os olhos quanto a esse consumismo atestado por todos? De fato, esse consumo dos imaginários desejos atribuídos – ou como diria o filósofo pós-moderno Jean Baudrillard: uma hiper-realidade – parece mais uma soma de fechar os olhos com um discurso altamente eficaz. Enfim, estamos em uma sociedade construída cuidadosamente para que nada seja gasto junto à racionalidade.

Entretanto, a luta histórica pelo direito – que não por acaso foi elevada com o surgimento do capitalismo, como mostra os estudos do filósofo e historiador francês Foucault –, pela propriedade privada e pela liberdade, concedeu o caminho para lutar pelos nossos sonhos. Porém o importante é definirmos as nossas reais prioridades e não as que são colocadas como necessidades (ou sonhos), nem as que são eleitas pelo povo e avaliadas pela mídia, da moda (ou pelas celebridades). Se comprarem sem necessidade (muitas vezes atraídos pelas publicidades que constam preços baixos), correrão os risco de gastar sem controle, e, por fim, girar novamente a roda da economia que sustenta a ambiciosa fome dos senhores dos modos de produção.

É habitual desejarem mais dinheiro se existe uma necessidade definida ou um objetivo a alcançar, segundo os velhos discursos dos donos dos modos de produção.  Não seria, então, correto dizer que este hábito também é criado para algum fim (visto que hábitos, costumes, modas, não nascem sem que haja antes uma condição – um movimento dialético – para esse novo habito, costume ou moda.)? Ou, além dos hábitos, o desejo de querer mais seria próprio dos indivíduos ou seria valores que norteiam a cultura predatória do capitalismo? Dizer que os nossos valores, costumes, culturas, história, são alterados, ou quando não alterados são criados outros novos para substituir os velhos, implica dizer, também, que a nossa vida é virtual. Ou seja, ninguém vive o próprio costume, senão o costume que querem que tenham em seu cotidiano. Consomem, gastam demasiadamente, pelo fato de serem criados assim, mas isso só não ocorrerá quando mudarem os valores impostos, como propôs Nietzsche.

Enfim, cada um de nós, enquanto seres humanos estamos cientes que vivemos em uma sociedade movimentada pelo dinheiro, que por sua vez movimenta a indústria cultural e esta as necessidades (principalmente as identificações) humanas para um consumo mais eficaz. O primeiro passo, então, é frear essa roda muito lucrativa a alguns e miserável a muitos, e alterar esses valores/forças que fortificam os lucros dos senhores dos modos de produção, que resultará em uma igualdade entre os homens para, por fim, começarmos uma nova sociedade.

Augusto Bozz e Muryllo Simon são jornalistas

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