Morávamos de aluguel em uma casa com três cômodos e nesse local não havia um quintal muito grande, só um corredor que dava acesso tanto à sala quanto a cozinha. O varal onde minha mãe estendia as roupas lavadas era um fio de energia que ficava logo abaixo da sobressalência do telhado e ia do portão, onde começava o tal corredor, até o tanque, que ficava uns dois metros depois da porta da cozinha. Da parede da casa até o muro tinha no máximo um metro e oitenta centímetros.
Minha mãe havia saído e eu estava em casa, naquela fadigosa tarde de sábado, com a indesejada companhia da minha irmã. Ficar com ela no mesmo espaço sem a presença da mãe era meio que difícil, para não chegar ao extremo do impossível. Naquele tempo eu tinha mais ou menos doze anos e minha irmã, um ano e sete meses mais velha, sempre abusava da minha pessoa. Mas eu tinha a certeza que um dia chegaria a minha hora.
Então, estava sentado no tanque, só a toa vendo o tempo passar, quando vi que ela saiu da porta da sala em direção ao portão, acredito que estava indo na casa de uma vizinha. Na sobressalência do telhado, próximo ao portão, havia uma caixa de abelhas. O pensamento em provocá-las naquele momento foi inevitável, pois minha irmã caminhava em direção ao portão e o varal que estava ao meu alcance passava logo abaixo da caixa das abelhas. Mas, me contive. Talvez se eu fizesse naquele momento ela poderia correr para fora e eu não conseguiria atingir minha satisfação plena. Pensei bem e cheguei a uma conclusão: ainda não é a hora. Sempre soube esperar a hora certa de agir, não seria dessa vez que deixaria uma idéia dessas ir por água a baixo.
Não demorou muito, no máximo cinco minutos, e lá estava ela voltando. Esperei que fechasse o portão pelo lado de dentro e foi ai que tive meu momento glorioso. Segurei o varal e o balançava de um modo que a outra ponta batesse, com força, na caixa das abelhas. Elas voaram para o ataque. Enquanto minha irmã, aos berros, era atacada pelas indefesas criaturas eu saboreava o sabor da doce vingança. Enquanto ela se debatia entre pulos e gritos eu rolava no chão de alegria. Em certo momento daquela cena até me compadeci dela e cheguei a chorar também, só que por outro motivo, de tanto rir.
Quase na mesma hora minha mãe chegou e eu já não estava tão eufórico como antes. Ela notou que minha irmã estava um pouco inchada e chorando, então a levou para um pronto socorro. Fiquei em casa só, aguardando o resultado. Algumas horas mais tarde elas chegaram. Minha irmã com a cara deformada de tanto que estava inchada. Os olhos dela me lembravam os samurais dos filmes japoneses, só o risco. Até aquele momento ninguém sabia, descobrimos que ela tinha alergia à picada de abelha. O medico falou para minha mãe que mais alguns instantes e ela teria morrido por asfixia.
Pensando pelo lado positivo da história até que fiz uma boa ação, pois se ela tivesse sofrido um ataque daqueles em outras circunstâncias talvez já nem tivesse mais entre nós. Minha mãe foi apurar os fatos. Contei a parte que me interessava e só tive um argumento: foi sem querer.